Houve um tempo como o agora, cinza, onde todo encontro
era secreto, aos ventos cortantes e verticais correntes, de um ar silencioso e
rarefeito.
Houve um lugar como o agora, distante, onde toda
lembrança era esquecida, rapidamente, na magia translúcida de um Deus
abandonado.
Houve um espaço que se chamou agora, onde tudo o que se
há já foi, e será, como sempre, presente, na ideia do ser que a tudo fantasia.
Éramos apenas um, transbordado, espalhado pelas esquinas
vazias. Éramos o filho direto do cosmo pagão, no espaço sem Deus, sideral,
navegando na eterna ausência de tudo, vitimado pela lembrança – que nunca foi
matéria.
Éramos mercúrio. Soando atomicamente à caça de teu par.
Expulsos a fórceps do mundo da matéria – o paralelismo diabólico.
A última vez que o vi ele estava confortável, sentado em
uma cadeira de pedra flutuante, espetando com uma pequena adaga um galo negro
que jorrava sangue. Vestia um paletó de lã cinza. Corpo de menino, longos
braços e cabeça de elefante. Olhava lascivo enquanto controlava a lua, presa à
ponta de sua língua áspera. Na praia, montanhas em formato de cabeça de cavalos
escondiam o sol avermelhado, que iluminava esqueletos de aves gigantes,
passeantes daquele ar sujo e denso.
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