calo

paro em mim - este eu lá fora

sem fórmulas, magias
formas e dias
ideias e versos
leis e nexos

falta a falta
que tanto me sobra

e ar, pra engolir a seco

é tanto beco
na Rua Ontem, sem saída

e tanto bote
no Cargueiro Amanhã

e pouco mato
na Lavoura Agora

e cinza toda vida

de esperança e lida
que morta, cala
e muda, resvala
na dor

desaprendo a ler
me foge a regra
me escapa a trégua
sou pavor

silencio a letra
renuncio à mim
neste último rabisco:

fim





LENÇO BRANCO ALVA


Lenço branco alva no pescoço liso teu

Leve, livre vai, que te leve ao toque meu

Levo o branco nosso e aposto que viveu

No pescoço que se atraca, foi Deus quem prometeu

Seus eus de tantos postos, eu endosso, mereceu

O toque fino e laço do abraço, apertado

De ti apartado, preso ao ombro já cansado

Por onde escorre o lenço branco alva agora meu






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FRIO OLHAR

Ó filha Ofélia minha

Ofélia, o mar já te sabia

Oferta a fé que não nos vinha

No frio olhar de Hameleto

Um Dueto, havia

O mar e o rio versos à prosa

A dúvida de ser ou não ser rosa

Ó velha, em mim, a má, pulsante ira

Se vira, contra o feitiço, enfeita mal

Feito jasmim, o broto seco fira

A moça na louça, de riso maternal

Ó filha, a fértil Ofélia

No rio, no riso nosso, te prometo

No frio olhar de Hameleto

Ofélia, o mar já te sabia






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O SOL ROMEU

O sol em nós desfaz os nós

Refaz a dor, e faz à sós

Desata e mata o que é amor,

Desmata e ata tudo após,

Se põe deitado em seu calor

E só escuta a própria voz 

Escapa à terra nata, erra a data

Espera Deus queimar os teus 

Pagãos de alma, deitam pigmeus

No céu - a cama de quem ama

Na sua ardência, o drama inflama

E regressa  o sol Romeu



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