Repentes inocentes do amor secrecional - V

A tua tez que tanto aquece,
com um triz, enaltece

poros e pêlos,

cicatrizes e zêlos.

Diz-se, nas esquinas, da arrepiada cutis,
que quando se ama,
tensiona e proclama,
em leves tremeliques.

E o movimento que pincela
passeando curva a curva,
torna a dama delirosa
tímida, singela donzela...

Tudo que te tegumenta me provoca

E invoca, minhas aflições e medos.

É minha alma que te toca!

...

o Diabo mora na ponta dos dedos

Repentes inocentes do amor secrecional - IV

a alquimia das secreções ensaiam na tua língua...

separando o viscoso
do fino, e o líquido
do plasma - o gozo que te cria

fundindo o Elixir

que aprisiona
e trancafia na mandíbula
o aroma do meu sêmem

e a espessura do meu pau...

e quando surge faringeal
com a goela me apertando
no balé das mucosas, passeia
pelo freio lingual, não freia

a minha vontade trêmula

de gozar pra sempre
te alimentar de mim.

mas

num repente, passa, se perde...

...

só nos resta repetir!

Repentes inocentes do amor secrecional - III

aquela puta velha da esquina da insanidade
que me oferta o seio murcho, todo dia, toda hora

guarda na bolsa de couro, suja e descascada
um coração inocente, macio, rósea
que bate inseguro, à espera de um amor

...

a cada trago, a cada olhar
o salto, a pele, as rugas
a tosse, os dentes, tudo!
tudo é amor!

é Deus que se disfarça...

repentes inocentes do amor secrecional - II

essa fenda melada com cheiro de mundo,
perto do osso, pulsante, cheia de sangue
que me nega, me engole e me deseja
fecunda idéias, mágoas, languidez
e faz o resto do universo parecer desncessário, decrépito e ridículo!

me corrompe, me ofende, me rebaixa
me suga a alma, mas com calma, vem, e se encaixa
com tanta magia, perfeição e natura...

como será a vida ápós a morte,
se os anjos não nos tocam?