Das Águas - Parte III

No quando do quantum que cega

E renega, o gene

E treme, nos enquantos,

Um anjo em prantos

Geme, e enxerga,

O céu terreno... Ó mar, meu manto

De choro e espanto.

...


Onde nadam semideuses sem asas.



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Apresentação


Se resta pouco ou algo assim

Sobram desamarradas as cordas de fios de sangue
Faltam as leituras dos olhos alheios
Sujam de dor o peito que infla
Diante do medo, terror, desespero e angústia

E esbanjam-se suturas comestíveis
E pedaços de feridas vivas

Para que a dor se faça humana
E o inferno desça à caça de uma poltrona confortável
Na primeira fila do espetáculo das almas doentes

Que a mesquinhez e avareza conduzem com o fêmur de condão 

...


Mas

Se resta pouco ou quase nada

Some devagar na transparência dos corpos
Desmoleculariza toda a razão
E fragiliza os dantes fortes soldados perdigueiros

Que vomitam as tripas de seus prisioneiros de guerra
E engolem as próprias gargantas

Para a ausência expandir poder
Abraçar os horizontes 
E cegar qualquer esperança

Sustentada pela aspereza da mão inimiga ofertada pelo desejo  

...


Muito prazer, amor.

Ode a quem se ama

Sol de todas as manhãs, me ensina a ser palhaço!
Lua que se esconde, vem das nuvens à mim!
E faça meu amor nascer num esboço ou traço
Crepuscular, em rosa-sangue e amarelo jasmim.

E tu, tarde - tempo perdido entre luz e treva!
Banha à ouro nu, nossos muitos lugares,
Em que o cheiro da saudade, ao bom gosto reserva,
As alegrias do encontro das bocas e olhares!

Lágrima, saia dos meus olhos corrompidos!
Hidrata rosto e pele que a melancolia secou!
Umedeça a dor ventante, que sopra aos muitos idos
E vindos, a semente que minha paixão regou!

E que o céu vermelho da vontade ensandecida
Teça em trama invisível nosso desejo em vida!