COSMOLÓGIKA - parte I

Desperta-se do sono primeiro e único, a unidade prima, habitante única do inabitável nada, como molécula hospedeira de um corpo inexistente.
Combina ao mover-se, um encontro de ondas, que dantes imóveis e alunas, desprende-se do organismo repousante.
E assim se dá o primeiro movimento.
Gerador constante da trepidação involuntária. Quantum enigmático da associação de deslocamentos.
E assim se dá o primeiro espaço.
Move-se o espaço em si, em giro celular. Ondas se unem em exercício de acúmulo. Caça-se a luz.
E assim se dá o primeiro tempo.
A direção resulta da frequente perturbação do movimento. O nada reflete ao nada, e o fluxo sustenta a si. O tempo nasce infinto.
E assim se dá o primeiro átomo.
O tempo perde sua gênese. O cosmos precisa ser eterno. Tudo procura a si.
E assim se dá o primeiro núcleo.

A Biologia das fraudes sexuais - Manifesto parte II

O aristotélico e o atomista são estáveis.

Qualquer cometa cuja cauda se aproxime da terra após um contato direto com qualquer corpo que transmita muito calor e energia, pode, facilmente, provocar uma forte tempestade e inundar a terra toda, a ponto de levantar a necessidade de elaboração de um esquema rápido e eficaz para salvar espécies.

Há analogias entre as fecundações humanas. Há hiatos entre as concepções de geração e origem.

Todo mundo posterior às catástrofes é desprovido de ordem e de proporção. O caos reina em toda gênese. Toda.

Todo pensamento ousado nada têm de contrário a razão.

Atrito + humor + secreção = princípio básico da unidade geradora de vida.

O sêmem é a mistura do todo.

A larva é antes ovo, que já foi crisálida. A borboleta é a vida após as mortes.

A biologia das fraudes sexuais - Manifesto - Parte I

Corpo é certeza.

Força estática e força dinâmica. A lei do repouso não é natural.

Atração é certeza.

O corpo reproduz a ciência. A lei da atração é a lei dos corpos.

Acaso é falha. O estéril é falha. O útero é a partícula do cosmo.

Flerte é falha. Sedução é falha.

O Humano é falho.

O pressuposto é humano. O pressuposto é falho.

A regra é única. Os gêneros são dois apenas.

A regra é holística.

A secreção é divina. O sangue é a parte humana do todo matéria.

Odores são essencialmente humanos.

Todo desejo é metafísico.

Fetiche é revelação. O universo é intangível.

Toda matéria tem energia. Não existe nada além da matéria.

O pecado prova a existência de Deus.

O desejo de pecar é sublime.

Todo pensamento é propriedade do corpo.

A insanidade é prima. É a ação direta do pensamento.

Todo corpo é inicialmente impenetrável.

Tudo é movimento.

O humano é resultado.

Cada parte é um todo indivisível.

O corpo humano une as partes.

Todo sistema necessita do centro. Todo centro é potência.

Todo sistema combina intensidade, força, potência e distância.

Todo núcleo é insubstituível.

Movimento gera equilíbrio.

Toda lei natural fundamenta seus princípios na simplicidade da ação.

Memória é luz incidente.

A luz quer penetrar. Sempre.

O impenetrável reflete.

Reflexão é luz própria em potência.

Da Ásia - Parte I

Hebreus antigos, transeuntes sedentos
Protegidos pelo céu e benção de Abraão,
Coléricos se viram entre sóis e ventos,
Na miragem de um Deus, egípicio ou não.

Alado às páginas da redação suprema,
Um homem tecia destinos nas alturas,
Mas a senectude é contrária ao dilema
Rascunhado em vão na sagrada escritura.

Pois na última linha de seu livro quinto,
Indagou Moisés, que na Torá legislou:
"Do divino pacto, dúvida pressinto:
A Canaã prometida, de que adiantou?

Se o povo de Adonai, fiéis caminhantes
Erguera um Estado no deserto esquecido,
Pode homem oriundo do abismo distante
Destruir as colunas do templo perdido?"

No mapa é soturno, qual felino criminoso,
Inferno asiático da fronteira enfraquecida,
Impávido e robusto como um leão ardiloso
Que acabara de trair manada enfurecida.

Terra de Israel, és infanto Estado velho,
Reduto do mártir e da face mascarada,
Potência que reluz o nebuloso escaravelho
Como praga egípicia, eterna e condenada.

Das águas - Parte I

No atlântico do oriente, de infinita rota,
Onde cíclopes se armam, frente a terra do poder,
Mata ele a ibérica sede, e encharca a velha bota,
Até o verdejante caminho balcânico do saber.

Curva-se diante do portentoso Gilbratar,
Para sentir Suez, e tocar o irmão vermelho,
Em contínuo encontro com o Negro parceiro,
Acena à Bosforo e Dardanelo, findando o passear.

Segue sápido e aquecido pelo vento do Saara,
E no Jônico profundo resfria o seu azul,
Nos braços de um primo Adriático ele pára,
Sempre navegante rumando a norte ou sul.

Água que tudo forma - é de Deus filha única,
Qual o belo indivisível - mar mediterrâneo,
Tão forte e sólida - é a verdadeira túnica,
E o sangue viscoso deste leito subterrâneo.

ao santo negro talhado em madeira molhada

Um santo negro talhado em madeira molhada,
De vermelho sangue da árvore bendita,
É filho de todos nós, do imaginário divino,
Da dor severa e da história escrita,

É poderoso ser do universo, habitante
Alado das montanhas verdes e calmantes,
Onde tecelãs de materna razão,
dedica-nos o destino em vislumbre constante,

E fortes homens trabalham, dedicados,
A transpor da natureza, energia inacabada.

E o santo negro talhado em madeira molhada,
No altar sustenta em punho a espada,
A aguardar o espetáculo qual finda
A vida humana, no colar de Deus pendurado,

Qual cordão sem ponta, círculo de força
Ou reta eterna traçada em fio dourado.

Abençoai aquilo que nas profundezas
Do imaginário humano, a dor fez adormecer,
E que o fio de tua espada acomode
Gota uma nosso sangue, para o ser renascer.

recorte da peça "Memorável Desventura"

Todo o rude peso da suavidade harmônica
Daqueles versos calados frenéticos sem tônica,
Com as sílabas das verdades expressas no opus,
Faziam tremer-lhe a vista à vislumbrar os corpos....

Corpos estes deitados na vastidão, no mistério da imagem,
Enfeitando e acalentando Narciso da margem...

E, suspirante, pela fonte decorada de notas sinistras,
O ar se fez humano, e tangível, sem rastro nem pista,
Ouviu-se então um cântico grotesco, e ante à face no lago,
Tombou-lhe a alma... Cai o corpo do consciente oriundo...

É a vaidade humana - rendida às caprichosas manobras do fascínio,
Que anseia por teu suicídio, como a música Narciso...
Gerando a força motora que sustenta a mente do mundo,
Instintiva e pura, suave e dançante, de majestoso improviso...

Ainda ouço as notas soltas, que se encontram em meio à devoção.
A saudar Narciso, e velar tua paixão...

Gracejos de Amor - II

... ofende a Deus a ímpia elegância
daqueles que julgam o amor, fraqueza
pois nas colinas da divina realeza
Quer o velho amar, sem distância

Assim o faz com tua criação
Ofertando ao homem, ante à razão
Sentidos, desejo e beleza

Aos amantes, a lua posta
de cor pecaminosa, sangue brilhante
Enquanto Ele, sorrindo aposta
que viva a cria teu prazer cintilante...

Gracejos de Amor - I

Tivesse eu com tigres lutado
ou sob o jônico degolado serpentes,
sentir-me-ia menos culpado
por amar assim, severamente...

Foi o encantamento voráz do repente
que a fez surgir na taberna ao meu lado...
Mefistofélica noite de sonhos ardentes,
fáustica esperança de fugir alado...

Por meses cavalguei jactante
atrás do cheiro de romã pulsante
atrás do rastro da bela passante...

Atrás da semideusa de olhar fremente
que tornou meu céu mais fulgurante
e meu ser mais inconsciente...

minha mulher, minha amante.