Colosseios

Ordem semântica de curiosa curva 
Monte que não se escala, flutuante – o anjo na nuvem 
Como a prima hora que rasga a terra em raio de sol 
Vermelho por dentro – e afora ofusca 
E brilha, como a láctea de amor que escorre da fenda 

E no passear vacilante de dedos reparto 
Pele, poro, ar e colo – em suave tremor febril de encantamento turvo 
E sólido – o corpo que se toca 
Vivo. 
Eu – no planeta do pecado sublime 

Onde anjos se olham... 

Cupidos corrompidos pelo desejar constante 
De pobres homens frágeis 
Amantes da plasticidade única – o corpo divino 
De fragrância diabólica 
E destino mundano, inefável. 

Composta como peça, parte a parte, canto a canto 
Sem cantos, nem quinas – projéteis orgânicos, maciez, natura... 
Na sina de ser o elo 
Entre o duro golpe, singelo e voraz do belo – existir 
E colidir – cria e criador 
Pelo amor – sim, zelo... 
E ensaio, o balé exuberante 
Ante a ausência repugnante dos atores errantes 
Que gritam ao meu ouvido 
No quando suspirante - em teu seio 
Ouço tudo, inquieto e repousante... 

E me escapa, sem receio 
E sincero - o "Amo" que não cala 
Mas traduz em fala, o que antes persevero... 

Que mora ali, nas saliências que venero - e que o sorriso prometeu 
Um coração alheio - O meu coração teu

à mãe futura


Deste ventre puro, que até então
Apenas beijei, em gestos de paixão
Surgirá, do semear, o resultante
Herdeiro, deste amar constante

E tu, que me esposas incessante
Aos prantos, na luz de vida primeira
Acalentará o fruto, em tua mão guerreira
Diante do presentear da existência

E este, que invade nossa essência
Tens de mim, adornos teus
E de ti, os olhares meus

Tens o gesto da força tua
E a incerteza, que ainda flutua
No início de cada jornada

Serás de teu filho, eterna e divina
E deste esposo, que por ti reclina
De orgulho e devoção, serás rainha

Pois, doravante, empossada
Pelo trajes de mãe celestial
E imaculada, és tu, completa
Esposa amada, e de nós repleta









Elogio do som

Dá um toque na pureza estagnada e satisfaz as tentações do repouso,
Altera à direção contrária e acalenta o silêncio físico tenebroso,
Penetra o corpo egoísta e mergulha no mar de escandalosos pensamentos,
Digere pela maquinaria orgânica sangrentos processos barulhentos.

Vive debruçado sob a alma errante dos calados homens literários,
Instrumentaliza e corrompe a verdadeira intenção de todos os diários,
Baila funéreo e deslizante com as penas presas na ponta de um pincel,
faz a imagem viver a paisagem ante à inquietude morfética do papel.

Crê que o silêncio é a ausência da complementação que sustenta a essência,
Manifesta a vital presença pelos gritos da mãe ao gerar a existência,
Provoca a selvageria humana postulada em sinceros urros de prazer sexual,
Fortalece a ameaçadora supremacia do lider assustando o menor animal,

Permite que o tonel de vinho embriague sem transbordar pela opaca taça,
Esconde e protege sua única e aparente virtude para facilitar a caça,
Garante ao universo cósmico sua eterna companhia,
Projeta na explosão a ideia da noite e do dia,

Faz-se presente em todos os momentos da história,
Encanta a platéia daqueles que utilizam para a glória,
Enfeitiça malvados ladrôes oceânicos pela beleza criada por seus devaneios,
Dá tranquilidade aos fins após os ruídos dos meios.

Buraco Negro


Nada, nem mesmo a luz de ti escapa
Distante de Deus - a força motriz dos calabouços variáveis!

Que não se vê e não se sente.

O temor molda-te a face, para o além-infinito!
Rasga o espaço-tempo
E se esconde no horizonte de evento
Das intangíveis albergarias,
E tronos de Zebus,
Refletindo um círculo maldito!
Que sangra em cosmologias...

Ante a luz que reduz e conduz
O tempo-espaço,
Dos anjos seminus – que lançam ao vento
Único, do movimento que induz,
Um quantum ao momento - se ausenta do compasso.

És,
Maciça e estelar – esférica vítima!
De força gama, áspera, membranosa
E eruptiva – filha da inexplicável e legítima
Sorte!

Aos humanos, a vida. Ao universo, o colapso...

E assim reina astuciosa - eterna morte
Da alma constelar eternizada em traço!
Se fora supernova, és mãe a entropia
Mestra da partícula, do silêncio cósmico - pura energia!

Metáfora divina que norteia o desapego
Ilumina-nos então, pai Buraco negro!






Das formas como se entende o amor

Das formas como se entende o amor, de como este se molda. Das formas, não conteúdos. Das gélidas armadilhas, dos calores fascinantes. Das fases do amor às faces do amor. Do amor, sim, sabe-se, que nada se sabe. Das certezas do amor, restam as dúvidas. Dos amores próximos – distantes improváveis sabe-se, de longe, que tudo é perto, tangível, vivo, físico. ... 

Dos amores da alma, das verdades do amor. Do amor virtuoso ao amor viciado. Do amor motivado ao amor casual. Do amor impossível à impossibilidade do amor possível. Do amor aforismo ao amor prosa. A poesia do amor – cântico vibrante, embriaguês, reflexo. O amor é a tônica. ... 

Dos muitos amores ao amor positivista. Do amor posse - a alma gêmea. Da ideia de amor ao plano infalível. Da universalidade da carne, do amor fricção. Do amor primeiro – descobre-se único. Do amor que morre - a frustração. Feitiço. Amor magia, amor humano, somente. ... 

Do amor divino ao amor plástico. Do amor que infla ao amor que suga. Dos amores outros, noutros. Do amor aquele, que não este – amores vários. Amor um. Amor só. Da falta de amor ao amor próprio. Do próprio amor do outro. Amor que não é nosso. Existe, apenas.

delírio

Com brutalidade, vem gozo silencioso...
E sigo trêmulo, nas entranhas da lembrança
Qual fragrância ímpia do cabelo que embriaga
A julgar a verdade nua, ante a temperança.

E na cólica do teu ventre vem a dança
A enrijecer-te o seio, que solitário clama
Em par com teu olhar, que perdigueiro chama
Meu toque áspero e o meu beijo jocoso.

Denuncia-nos então um frêmito pulsante
Que abençoa e apunhala este pobre amante...

Mas sempre presente, lasciva mão nos afaga
Em suave toque secreto, voraz, libidinoso...

elogio à cegueira




Estreito e enigmático, de clarão cortante
Que não se exibe, em raio a guisa
De um toque apenas. Sensível e pulsante
Sabe então o cego onde toca e pisa.

E nas entrelinhas de um texto mal lido,
Sob escuridão e piscadela do globo ardente
Reclama à memória de um sol sentido,
Que queima e reina das trevas à mente.

Pois sem ver é que se fala em sentir,
Na manhã somente, do ir, do vir
E da dor de ser o outro que não mais se enxerga,

E se perde em tonturas, e o destino posterga.
Como a alma que vê no sorriso a esperança,
A cegueira é o sentido que o corpo não alcança.

"das impossibilidades"

De ti sei pouco, ou quase nada
e pelo amor fiz muita coisa errada...

Caminho feito à trilha, deixando marcas
Buscando voltar antes do destino...
e destas surgem então as farpas
Que sobrou do meu eu menino:

Vontade de ser adulto,
De fantasiar as façanhas de um crime.

E depois, no silêncio dos olhos confessantes,
Na solidão da noite eterna e sublime,
Os olhos fajutos, antes flamejantes,

Me observou do alto, forte e astuto,
Um único desejo, que em silêncio grita...

O amor é terreno, dói, excita.

Repentes Inocentes do Amor Secrecional - VI

Das ruas é você
o tempero, a beleza
a leve aspereza, do totem ser

já que muitos te montam
cavalgam, desabam
gritam em silêncio
ou em gemidos,

no teu colo babam...

e por trás das facetas
de cada busca, fuga, habita
na mente, eterna punheta

pois puseste em ti o posto
da outra que aposta em teu esposo
do fiel cálice ao cale-se jocoso

as cenas de um casamento - união de fé e incerteza

viva a Puta deusa