elogio à cegueira




Estreito e enigmático, de clarão cortante
Que não se exibe, em raio a guisa
De um toque apenas. Sensível e pulsante
Sabe então o cego onde toca e pisa.

E nas entrelinhas de um texto mal lido,
Sob escuridão e piscadela do globo ardente
Reclama à memória de um sol sentido,
Que queima e reina das trevas à mente.

Pois sem ver é que se fala em sentir,
Na manhã somente, do ir, do vir
E da dor de ser o outro que não mais se enxerga,

E se perde em tonturas, e o destino posterga.
Como a alma que vê no sorriso a esperança,
A cegueira é o sentido que o corpo não alcança.

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