A morte do palhaço


Que a mão da arte teça o casaco do velho louco
E que este encante a intangível plateia
Do universo dançante de astros e explosões
E que teu rosto volte a ser a bela criança
E tuas armas sejam novas e orgânicas
Como o velho nariz vermelho e grandes pés de ponta inchada
E boca borrada pelo sorriso que força
Na força de ser um velho tecido em tecido velho
Sem a artimanha do dilema que eis na questão
Ou na interpretação jocosa do eu que não mais atua
Na certeza do repente que improvisa em vida
Em projétil frágil que se ergue em cena
À decupar a própria matéria em moléculas de alegria
E não assustar o torpe transeunte que vislumbra pelo acaso
As piadas infames sem origem nem destino
E que volte a ser palhaço o velho louco
E seja sempre um louco o ser que volta
E respeitável seja com o público que anseia
Pelos urros de um prazer animal e desconexo
Pois entre os risos que coram o reles povo
Há dor, vida, morte, prazer e fuga
No movimento último que finda o espetáculo
Vai repousar tranquilo no camarim dentro do peito
E arrancar a maquiagem que esconde essências
Ouve-se então um último aplauso
E fecham-se as cortinas...